Primeiros passos da história em filmes (Paleolítico e Neolítico)

• 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO  (Stanley Kubrick, 1968)
Filme de ficção cientifica. Mas seus primeiro 16 minutos fazem uma espécie de demonstração do salto evolutivo do nosso antepassado primata para o surgimento da humanidade, com a reflexão de um primata diante da necessidade, para pensar no seu meio e nas formas de ampliar sua força e capacidade de transformação da natureza. Foi criticado por antropólogos. Mas ainda sim, apresenta uma ideia importante sobre o processo da evolução humana. Veja o trecho:

 

• GUERRA DO FOGO (Jean-Jacques Annaud, 1982)
A Guerra do Fogo conta a saga de uma tribo e seu líder, Naoh, que tenta recuperar o precioso fogo recém-descoberto e já roubado.
Na história, o personagem parte para uma jornada através dos pântanos e da neve, onde encontra outras tribos, em estágios diferentes de evolução e desenvolvimento cultural. Os sons e a linguagem embrionária do filme são criações do escritor Anthony Burgess, o mesmo de Laranja Mecânica. O filme foi duramente criticado por antropologos que estudam o desenvolvimento humano, por erros nareconstituição da pré-história. Mas isso não invalida em nada o filme, para entendermos elementos do desenvolvimento humano no paleolíco (idade da pedra lascada) e no neolitico (idade da pedra polida) no caminho para o domínio do fogo pela humanidade. Nesse sentido o filme é uma aula que vale ser assistida. Veja trailler:

• 10.000 a.C. (Roland Emmerich, 2008)
No geral, esse filme é ruim. Cheio de coisas “sem-pé-nem-cabeça”. Ou seja, para ser bem claro: não leve o filme a sério. Mas há passagens nele que são bem interessantes. Uma delas é a ideia trabalho colaborativo na caçada de mamutes. Há também a caçada humana, por parte de uma civilização que escravizava povos de outras regiões. Na história também mostra-se a questão dos estágios culturais diferentes entre povos que viviam numa mesma época. Veja trailler:

Filme completo:

Madame Satã – O Importante é Ser Eu e Não o Outro

Um dos lugares mais legais de São Paulo, num documentário resgatando sua história e sua importância.

Em vinte e um de outubro de 1983, na Rua Conselheiro Ramalho, 873, nasceu o Restaurante Cultural Madame Satã. Uma revolução na noite paulistana. A partir do sonho de dois irmãos – um deles ex-seminarista – e de duas irmãs, que participavam de teatro mambembe nas periferias da cidade, a casa começou a surgir. Continuar lendo

Ibn Battuta: o maior viajante da Idade Média – por Yves D. Papin

Artigo publicado originalmente no site da revista História Viva. Essa revista junto com Scientific American Brasil, publicadas pela Duetto Editorial, são algumas das melhores publicações disponíveis nas bancas.

No século XIV esse peregrino marroquino deixou Marco Polo para trás ao percorrer 125 mil km pelas estradas da África, Europa e Ásia. Suas memórias revelam um mundo pouco conhecido pela historiografia ocidental

O peregrino marroquino durante sua passagem pelo Egito. A partir do norte da África, ele viajou o equivalente a três vezes a volta ao mundo

Ilustração de Ibn Battuta.

Abu Abd Allah Muhammad ibn Muhammad ibn Ibrahim al-Luwati at-Tanyi, ou simplesmente Ibn Battuta, nasceu em Tânger em 24 de fevereiro de 1304. Crente fervoroso, aos 22 anos decidiu realizar a peregrinação ritual a Meca que todo muçulmano deve fazer. Aquela seria a primeira de uma série de viagens que o levariam a percorrer aproximadamente 125 mil km durante os 26 anos seguintes.

Ele partiu sozinho em 14 de junho de 1325, sem companheiro nem caravana. Começou a viagem cruzando a atual Argélia, onde visi-tou as cidades de Tremecém, Argel, Bougie, Constantina e Annaba. Ao chegar à atual Tunísia, passou vários dias na cidade de Túnis antes de partir com uma caravana para Sousse e Sfax, onde se casou, se divorciou e voltou a se casar em um período de poucos dias.

Impressionado com os esplendores de Alexandria, no Egito, aonde chegou vindo da Líbia, ele nos deixou uma descrição do célebre farol (em ruínas) antes de visitar as cidades do delta do Nilo. A vista do Cairo o encheu de admiração, tanto pelo caráter sagrado quanto pela animação da cidade. Ele aproveitou para visitar as pirâmides, contentando-se, porém, em descrevê-las rapidamente.

Pouco inclinado a tomar o caminho mais curto, Ibn Battuta seguiu para a Síria passando por Gaza e Hebron (na atual Palestina) antes de chegar a Jerusalém. Na sequência tomou o rumo de Damasco, “o paraíso do Oriente”, passando no caminho por Nablus, na atual Palestina; Acre e Tiberíades, no atual Israel; Tiro, Sidon, Beirute e Trípoli, no atual Líbano; Lataquia, Homs e Alepo, na atual Síria; e Antióquia, na atual Turquia. Ao chegar a Damasco, na Síria, ficou encantado com a atmosfera da cidade, que tinha “a mais sublime mesquita do mundo”.

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Qual a história do nome de sua rua?

O blogueiro Alexandre Inagaki, um dos mais divertidos visionários da web desde sua época na faculdade,  fez um artigo muito legal no seu Pensar Enlouquece, Pense Nisso!.

O artigo tem como título “Os nomes de ruas mais bizarros no Google Street View“.

Que tal morar na rua Maravilha Tristeza?

Ou na rua dos Pensamentos Poéticos?

Vale a pena saber mais sobre essas ruas e outras clicando aqui para visitar o artigo completo do Iganaki.

Mas o que me motivou a escrever esse post é uma razão pedagógica.

É uma pena que hoje eu só dê aulas para cursinho. E no cursinho é só aula. Não há pesquisa ou trabalho. Uma pena.

Seria muito legal ter uma turma de Ensino Médio ou Fundamental para fazer um projeto sobre história do nome das ruas onde cada um mora. Poderia ser um trabalho de produção e edição de texto na Wikipédia, ligando os verbetes das ruas aos verbetes que originaram o nome das ruas. Pesquisando, fotografando, buscando informações inéditas. Seria uma forma legal de ensino através da pedagogia da pesquisa e da colaboração coletiva.

Acredito que isso faria as pessoas entenderem muito mais de história, do que ficar lendo sobre corveias e banalidades ou sobre plantation.

“Sobre o professor de história” – crônica de Domingos Pellegrini

O professor de História, no seu primeiro dia de aula, entra e os alunos nem percebem, conversando, falando ou jogando no celular. Ele escreve na velha lousa um imenso H, e depois vai desenhando cabeças com bigodes e barbas, enxada, foice. A turma foi prestando atenção, trocando risinhos, e agora espera curiosa. Finalmente ele fala:

– Não vamos estudar aquela História com H, só com heróis e grandes eventos! Vamos estudar a partir da nossa história, daonde e como viemos. Por exemplo, como é seu sobrenome?

– Oliveira.

– Pois é, muitos Oliveiras têm esse nome porque eram imigrantes europeus, fugidos de perseguições religiosas, então adotavam nomes de árvores ou plantas, Oliveira, Pereira, Trigueiro e tantos outros. E o seu sobrenome?

Santos.

– Foi o nome adotado por muitos ex-escravos ou filhos mestiços de fazendeiros com escravas. Você é, como diz o IBGE, pardo, o que não é vergonha nem demérito algum, ao contrário, a maioria do povo brasileiro é pardo. E o seu sobrenome?

– Vicentini.

– Origem italiana. Os italianos, como os espanhóis, alemães, japoneses, vieram para cá para bater enxada, trabalhar nos cafezais quando os escravos foram libertados.

O engraçadinho da turma levanta o braço:

– Meu sobrenome é Silva, professor. Tem mais Silva na lista telefônica que formiga em formigueiro. Daonde eu vim?

– Da selva. Silva é selva, em latim. Foi o nome dado pelos romanos antigos aos que vinham das florestas para morar na cidade, eram os “da selva”. Se a gente pensar que a maioria das pessoas morava no campo há meio século, e depois se mudou em massa para as cidades, a origem do nome até se justifica.

A turma espera em silêncio: aonde ele quer chegar?

– Proponho o seguinte. Vocês conversem com seus pais, avós, tios, para saber dos antepassados. Daonde vieram, por que, trabalharam e viveram onde e como. Cada um contará então a história de sua família, e daí vamos situar essa história familiar na história social. Vamos falar da cafeicultura, por exemplo, depois que alguém falar que seu avô trabalhou com café.

Uma mocinha levanta a mão:

– Não só meu avô, professor, minha avó conta que também trabalhava. Levantava às cinco, fazia café, dava de mamar ao nenê, porque ela diz que sempre tinha um nenê no ombro, outro na barriga e uma criança na barra da saia. Depois de fazer o café e tratar das galinhas, recolher os ovos, tirar leite das vacas e cuidar da horta, ela ia levar marmita pro meu avô e os filhos maiores no cafezal, e ficava lá também batendo enxada até o meio da tarde, quando voltava pra preparar e janta e…

– Bem, só com isso que você contou podemos estudar a cafeicultura e o feminismo, comparando as famílias daquele tempo e de hoje, tantas mudanças. Cada um de vocês, com sua história, vai acender o fogo do conhecimento em cada aula. Eu só vou botar lenha, dar as informações, vocês vão dar vida à História, que aí, sim, vai merecer H maiúsculo! Combinado?

Os alunos aplaudem, entusiasmados, comentam: nossa, massa, uau, professor maneiro!… Saem, e depois ele, saindo, dá com o diretor nervoso:

– Eu ouvi sua aula, professor, aqui ao lado da porta, como faço com todo novato! O senhor tire essas ideias da cabeça, viu? Vai ensinar conforme o programa, começando pelo descobrimento, as três caravelas, a calmaria etc. Entendido? Ora, onde já se viu, História viva… Só por cima do meu cadáver!

O professor novato vai pelo corredor, sentindo-se morrer por dentro. Na sala dos professores, nas paredes estão Tiradentes e o crucifixo de Jesus, dois mártires. Ele chora, perguntam por que, apenas consegue dizer “não é nada, é uma longa História”.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL GAZETA DO POVO (PR).